30 de dez. de 2009

Bertioga, uma incognita



Estamos quase saindo de Guarujá pra ir pra Bertioga, o problema é que ainda não conseguimos um local em Bertioga pra montar nosso acampamento, se alguém conhecer alguém, entre em contato!

Ontem rolou a bicicloteca mais popular que já foi feita, a criançada realmente devorou os livros que distribuímos nas ruas de "Vicente de Carvalho", que só não é um município por formalidade, pois não tem nada a ver com Guarujá.




À noite encontramos alguns problemas técnicos pra montar o som, mas apesar dos perreios rolou o primeiro sarau da caminhada, na praça 14 Bis, na Av. Santos Dumont, que inventou o avião e se matou em Guarujá.







A caminhada tem suas surpresas, e é por isso que caminhamos, fecho este sinal de fumaça com a foto do nosso chuveiro improvisado.

29 de dez. de 2009

O Pré-Sal e a soberania nacional

Caminhantes e convidados debatem o Pré-Sal no segundo dia da Expedición Donde Miras


No seu quarto trecho, que compreende a região de Santos (SP) a Paraty (RJ), a Expedición Donde Miras caminha sobre terras peculiares: a região do Pré-Sal. A reserva petrolífera, mapeada recentemente, constituiu-se na separação da Pangéia – a imensa massa terrestre que separou-se e formou os atuais continentes – entre a América e a África. Algas azuis soterradas debaixo de sal foram amalgamadas ao longo dos milênios e resultaram em imensas aglomerações de petróleo de qualidade. O sal serviu como uma “tampa”, o que permitiu a maturação do petróleo. A camada está a 7 km de profundidade a partir do solo marinho e consiste em um volume monstruoso de óleo, principalmente na bacia de Santos (que vai desde Florianópolis ao Espírito Santo). A partir dessa descoberta, o Brasil pode passar a constar entre os três principais produtores de petróleo mundial.

Anderson Mancuso, diretor do Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista, foi convidado pela expedição para fazer uma apresentação sobre o tema. O encontro ocorreu no alojamento dos caminhantes em Santos e resultou num interessante debate. Anderson defende que o Pré-Sal não é uma discussão restrita – deve ser feita por todos os brasileiros; e não é isolada, por ser transversal a diversos temas estruturais, entre eles a soberania nacional, questões ambientais e sociais. “Esse é um momento ímpar, pois fomenta a questão da soberania nacional: continuaremos entregando nossas riquezas?”, provoca Mancuso.

O diretor acredita que hoje a geração de energia está voltada para a produção de lucros, não para suprir as necessidades sociais. Essa é uma oportunidade para revermos a lógica de exploração dos recursos e o investimento público resultante. A descoberta do Pré-Sal faz do Brasil um alvo internacional, por isso é necessário desenvolver um projeto político de gestão das nossas riquezas naturais como um todo.


A legislação e a soberania

O atual modelo de exploração do petróleo brasileiro data de 1997, quando o governo de Fernando Henrique Cardoso quebrou o monopólio estatal. Tal postura bate de frente com os princípios da campanha O Petróleo é Nosso, que em 1954 resultou na fundação da Petrobras. O modelo de concessão de FHC consiste no mapeamento dos blocos petrolíferos e sua venda por meio de leilões, cuja dinâmica é controlada pela Agência Nacional de Petróleo (ANP). A empresa vencedora deve cumprir uma série de etapas, mas grande parte da produção fica para o capital privado – pouquíssimo vai para o Estado.

A contradição é que o petróleo é um bem público, não privado. Por isso o modelo atual não condiz com a histórica luta popular pela soberania energética. Mancuso explica que Lula perpetuou o modelo de FHC – o governo petista afirma que na época a lei era apropriada (apesar de que a contestava naquele momento), mas que agora deve ser aprimorada devido ao Pré-Sal. “O filé mignon do Pré-Sal, concentrado em 30% de suas reservas, já foi entregue para multinacionais”, denuncia o sindicalista.

Alguns projetos de lei que buscam avançar na questão da soberania energética já passaram pelo Congresso Nacional. Um deles estabelece o modelo de partilha (“modelo híbrido”), no qual a empresa que ganha a concessão é aquela que cede mais para o Estado - uma espécie de barganha. Contudo esse modelo valerá somente para as áreas ainda não exploradas. Mancuso acredita que esse sistema mantem a lógica de entrega das nossas riquezas naturais. Já Bruno de Tarso, militante do movimento estudantil e participante da caminhada, defende que o modelo de partilha já é um avanço. “O ideal seria que a Petrobras voltasse a ser 100% estatal e obtivesse o monopólio de exploração do petróleo nacional. Mas como isso não é possível na atual conjuntura, o modelo de partilha ao menos direciona parte dos recursos ao poder público”, argumenta.


Construção de um novo projeto

O debate comprovou o que Mancuso havia dito: a discussão do Pré-Sal é transversal a diversos temas e diz respeito a toda a sociedade. Ana Estrella Vargas, socióloga e caminhante Donde Miras, questionou inclusive se devemos explorar o petróleo. “O que acontece quando tiramos essa substância tão profunda que está há tanto tempo sendo produzida pela terra? Quais os efeitos colaterais disso?”, indagou.

O fato é que os danos ambientais são irreversíveis, por isso temos que repensar nossa lógica e encarar o Pré-Sal como um recurso estratégico a ser explorado com responsabilidade. “Temos que transpor a visão produtivista e pensar em novas formas de energia, inclusive utilizando os recursos advindos do próprio Pré-Sal para desenvolver novas tecnologias”, indica o sindicalista.

A crise que enfrentamos não é somente econômica, mas estrutural. Por isso a urgência de construirmos novas formas de relação entre os seres humanos e destes com o meio. Existem várias pessoas se dedicando a criação de um projeto alternativo. A Expedición Donde Miras alimentará esse debate ao longo da caminhada, pois também entende que esse tema diz respeito a todos nós. Todas as formas de conscientização podem fazer parte desse projeto – o desafio é conseguir de fato dialogar e construí-lo coletivamente.



Por Michele Torinelli
http://miradas.soylocoporti.org.br

28 de dez. de 2009

Chegamos em Guarujá


Ontem não houve sarau, a chuva nos impediu. De dia 4 pessoas do Sindicato dos Bancários e do Sindicato dos Petroleiros, Flaviano, Mancuso Satoshi e a Franciele, fizeram uma palestra sobre o pré sal, antes disso assistimos o filme "O Petróleo é nosso". À noite assistimos "Brazil: precisa-se de um interprete" com o diretor André Lopes, depois da palestra e do filme fizemos um debate caloroso sobre assuntos diversos.

Hoje saímos do Morro Nova Cintra em Santos
andamos até o Canal


dali chegamos na praia e andamos pela orla (choveu chuva pesada) até a Balsa
que nos trouxe até Guarujá, pegamos uma avenida que não tinha fim, mais chuva... daí descobrimos que existem ciclistas que andam com guarda-chuva. Chegamos na Sociedade Amigos de Paecara, já estamos acampados.

Temos sarau marcado pra amanhã à noite.

27 de dez. de 2009

Dia 26 de dezembro

nosso vídeo de abertura da quarta expedição

Notícias do Caminho

26 de dezembro. Somos, por acaso, 26 caminhantes... Entre nós poetas, atores, dançarinos, músicos, cineastas e outras possibilidades de criação artisticas.

Saímos de São Paulo e fomos transportados da periferia sul ao litoral santista por um ônibus grande e a diesel. Desembarcamos no morro Nova Cintra, também periferia e aqui começaremos mais uma etapa da Expedição Donde Miras, uma caminhada cultural pela América Latina.  

Nosso destino? Paraty! Para mim! Para nós caminharmos a pé de Santos a Paraty, passando por várias cidades do litoral norte paulista.
Nosso objetivo em caminhar? Encontrar nas cidades e nos caminhos que nos levam até elas, outros como nós, interessados em romper com o modelo de vida servido nas antenas de tv. 

Caminharemos um pouco mais de 300 km em busca de um brasil desperdiçado e em conjunto com seu povo realizar Saraus artísticos nas praças públicas, chamando as pessoas pra rua, buscando o sorriso das crianças, acendendo fagulhas nas nossas pessoas tão maltratadas por alguns poderosos do dinheiro.

Nosso trajeto tem a marca do pré-sal, o novo combustível mais especulado do mundo. Nós brasileiros, o que temos com isso? É outra coisa que queremos descobrir... mas principalmente queremos encontrar as pessoas, que são uma fonte de energia cósmica que quando emanada, não acaba, multiplica.

Pé na estrada

Onze horas da noite do dia 26 de dezembro na rodoviária de Curitiba. Malas, corpos, confusão e ansiedade. Para onde vão todas as pessoas? Sonhos, obrigações, reencontros, destino e vontade. O limbo daqueles que ainda não foram.

Minha ansiedade mira. Os andarilhos já haviam saído de São Paulo para a largada oficial de mais uma caminhada da Expedición Donde Miras, o quarto trecho, agora de Santos a Paraty. Ânsia de passos, versos, cores e timbres. Será um mês de caminhos percorridos, saraus, poesia, fotografia, cinema e teatro - cultura a cada passo.

Meu ônibus percorreu as horas mortas paranaenses e paulistas. Pinga lá, pinga cá, desembarco às seis da matina em Santos. Minha referência é o alojamento cedido pelo Sindicato dos Bancários – silêncio matutino, o descanso dos que caminharão. “Abre a porta pra mim, Donde Miras”. Luan sonolento me recebe – a cidade dorme.

Barracas, colchões e cozinha improvisada. Eu descanso da viagem conturbada enquanto aos poucos os caminhantes despertam – feliz reencontro. É o início de mais um ciclo de troca e mutação. As trilhas da América Latina se abrem.


Por Michele Torinelli
http://miradas.soylocoporti.org.br

26 de dez. de 2009

Chegada em Santos

Saímos do Bar do Binho


e já chegamos em Santos



Amanhã Sarau Donde Miras em Santos! Começamos nossa quarta Caminhada Donde Miras! Santos à Parati


22 de dez. de 2009

Saída da Caminhada Cultural dia 26 de Dezembro 14hs




A saída da caminhada 
Trecho Santos - Paraty
saíra do 

Bar do Binho
 R. Avelino Lemos Jr., 60 (em frente à Uniban) -
Campo Limpo. Zona Sul.
Telefone (11) 5844-6521 / 5844-4532

dia 26 de dezembro - sábado - 14hs!


mais infos: 3535-6463 // 5814-0312


Minha Terra

Repousa os pés na estrada

a cada passada
o nosso descanso é cruzar fronteiras
Minha terra tem palmeiras
mas eu nunca vi
tem palmares, tem quilombos
xavante, tupi
Minha terra tem aldeias
mas eu nunca vi
onde o vento é quem semeia
o alimento guarani
Minha terra tem lugares
que eu nunca fui
densas matas, tenros vales
onde a água flui
Minha terra tem estradas
minha terra tem estribos
Sou índio da cidade
desertor de minha tribo
ser urbano jogado no mundo
ser mundano perdido na urbe
um sulamericano perdido
que não quer ser mais um no cardume
Sou vagalume, sou vagalume
vejam minha luz!
Essa terra tem mil deuses
um deles que me conduz
essa terra tem canções
essa terra tem cantigas
mas o ouro dos brasões
veio abrir nossas feridas
Essa terra é muito antiga
essa terra é muito antiga
Repousa os pés na estrada
a cada passada
o nosso descanso
embalado pelo canto
em qualquer canto
desbravando os brasis
se as veias estão abertas
seremos a cicatriz

Poema de Marcus Vinicius (http://versosevasos.blogspot.com), o Mascote da Expedición Donde Miras - Caminhada Cultural pela América Latina (www.expediciondondemiras.blogspot.com).

11 de nov. de 2009

Mapa da Caminhada Cultural Trecho Santos - Paraty



Caminhada Cultural pela América Latina - Trecho Santos - Paraty

A Expedición Donde Miras é composta por um coletivo de artistas que caminha rumo a diversas cidades da América Latina promovendo Saraus de poesia com audiovisual, música, dança, teatro, performances entre outros.

A Expedición Donde Miras tem como objetivos fortalecer a integração entre os povos latino-americanos promovendo a convivência e o intercâmbio entre artistas e a identidade cultural das cidades visitadas.

Neste sentido foram realizadas Três expedições ultrapassando mais de 1.000 (mil) km andados nos anos de 2008/09, sendo a primeira de São Paulo a Curitiba com apoio das prefeituras, a segunda de São Paulo a Cananéia com apoio das Oficinas Culturais do Estado de São Paulo e a Terceira de São Paulo a Botucatú com apoio das prefeituras e Organizações Não Governamentais.

A quarta expedição - Santos-Paraty – representa a conclusão do trecho no litoral paulistano do Projeto Donde Miras, sendo que os próximos ciclos prevêem ultrapassar as fronteiras de nosso país, rumo a outros países da América Latina como o Paraguai, Uruguai, Argentina e Chile.



Objetivos


1. Conhecer a cultura das cidades envolvendo os caminhantes, os artistas locais e a população em geral em atividades de resgate e valorização de sua história, seu espaço e sua cultura.

2. Promover espaços de intercâmbio cultural (saraus), com apresentações de música, poesia, teatro, dança, filmes, plásticas, entre outras manifestações e trocas que são possíveis nos Saraus no encontro dos caminhantes, dos artistas locais e a população.

3. Registrar com vídeo e foto as manifestações culturais encontradas no caminho.

4. Disseminar o conteúdo artístico registrado durante a expedição como bem cultural Latino Americano.



Cronograma da Quarta Expedição:


SANTOS Chegada 26.12.09 - Sarau 27.12.09 - Saída 28.12.09

GUARUJÁ Chegada 28.12.09 - Sarau 29.12.09 - Saída 30.12.09

BERTIOGA - Chegada 30.12.09 - Sarau 31.12.09 - Saída 02.01.10

RIVIERA DE SÃO LOURENÇO - Chegada 02.01.10 - Sarau 02.01.10 - Saída 03.01.10

BORACÉIA Chegada 03.01.10 - Sarau 04.01.10 - Saída 05.01.10

BOIÇUCANGA Chegada 05.01.10 - Sarau 06.01.10 - Saída 08.01.10

MARESIAS Chegada 08.01.10 - Sarau 09.01.10 - Saída 10.01.10

SÃO SEBASTIÃO Chegada 10.01.10 - Sarau 11.01.10 - Saída 13.01.10

CARAGUATATUBA Chegada 13.01.10 - Sarau 14.01.10 - Saída 15.01.10

SERTÃO DE QUINA Chegada 15.01.10 - Sarau 16.01.10 - Saída 17.01.10

UBATUBA Chegada 17.01.10 - Sarau 18.01.10 - Saída 20.01.10

UBATUMIRIM Chegada 20.01.10 - Sarau 20.01.10 - Saída 21.01.10

PARATY Chegada 21.01.10 - Sarau 22.01.10 - FIM 23.01.10


Sobre a Solicitação aos Municípios:

Todo trabalho realizado pelos artistas é voluntário e em contrapartida solicitamos o apoio dos municípios com alojamento e alimentação para os caminhantes.

Nas três primeiras expedições os municípios ofereceram alojamentos em centros comunitários, escolas, ginásios de esporte, pousada entre outros e quanto à alimentação foi oferecido café da manhã e duas refeições diárias – as refeições foram preparadas por funcionários ou voluntários da cidade e em outros casos a cidade ofereceu o alimento e cozinha e a própria expedição preparou as refeições.

A colaboração do município com divulgação e espaço aberto para a realização do evento são articulações muito importantes para o sucesso do Sarau.

9 de nov. de 2009

Documentário: O PETRÓLEO TEM QUE SER NOSSO



A discussão sobre as energias que movem nosso país é fundamental, uma vez que atingem diretamente os recursos naturais, a economia e o desenvolvimento do Brasil.

Esse documentário apresenta uma síntese da discussão sobre o Pré-Sal, tema tão discutido atualmente.

Queremos nesse caminho pesquisar as energias e refletir com a comunidade diretamente
atingida os impactos que as recentes descobertas do pré-sal podem trazer para as comunidades litorâneas.

22 de out. de 2009

Mapa da Caminhada Cultural

































25 de set. de 2009

Sarau Donde Miras no Capão Redondo

Após o despejo da ocupação Olga Benário, no Capão Redondo,
em agosto, mais de 500 famílias ficaram na calçada sem ter pra onde ir.

O CDHEP-Capão e a Expedición Donde Miras
foram até o local para realizar um sarau com as crianças.

Fotos: Kátia Portes Leão








Fotos: Amanda Fraga






A tão esperada projeção: Kiriku e a Feiticeira


Veja as fotos de Paulo Whitaker do despejo:
http://noticias.uol.com.br/album/090824capao_album.jhtm?abrefoto=1

Veja abaixo uma matéria sobre a situação no local após a desocupação:


Folha de São Paulo, Cotidiano - 02/09/09

Favela se muda para calçada e a vida piora ainda mais

370 famílias montaram barracos perto de área da qual foram despejados no Capão Redondo

Moradores vivem sem água ou luz, defecam e urinam em embalagens de sorvete e têm de se revezar nos barracos para dormir


LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL


Luiz Gustavo da Silva Santos, cinco meses, Andressa Conceição, seis meses, Daniela, quatro anos, Jonas, quatro anos, Cauane, três anos, Margarida Souza Ferreira, 36, Cícera da Silva Santos, 33, e Sandra Maria da Conceição, 28, moram desde o dia 24 em um barraco de 4 metros quadrados. Sem água, sem luz, sem banheiro, sem cozinha, dependem da sopa fornecida pela igreja. Defecam e urinam em embalagens de dois litros de sorvete. A descarga é no terreno em frente.
O banho é de favor, com vizinhos mais ricos. Na verdade, são apenas moradores de barracos "normais", que ficam na favela "normal", logo ali. Porque o barraco das mulheres e crianças citadas no início não é desse tipo. Foi erguido com outros 200 ao longo de 630 metros de uma calçada, no que já foi apelidado de "favela-tripa", que abriga cerca de 370 famílias.
Explica-se: no dia 24, o terreno de 34 mil metros quadrados no meio do bairro do Capão Redondo (zona sul), e onde moravam cerca de 800 famílias, foi desocupado pela PM, em cumprimento a uma ordem de reintegração de posse. Ontem, o local, que pertence à Viação Campo Limpo, estava recoberto pelos escombros dos barracos que o preenchiam -pedaços de fogão, boneca queimada, colchão, cadernos chamuscados, garrafas usadas podiam ser vistos entre toneladas de entulhos iluminadas aqui e ali por fogueiras altas. Nenhuma alma.
Do outro lado da rua, bem em frente à destruição, em uma faixa de calçada de 2,5 metros, esticou-se o que sobrou de vida na favela. Um barraco colado ao outro, restos como paredes.

Versinho para Olga
A vida da favela teve de entrar na linha -do meio fio-, mas continua. "Vai acontecer milagre. Milagre. Vai acontecer milagre", repete, às 23h, o sistema de caixas amplificadas da Igreja Pentecostal Águas Vivas. É o pastor Raimundo Medeiros do Nascimento, 45, quem, cercado de obreiras (quatro, superpovoando o seu barraco), anuncia a boa nova. Ele conseguiu salvar a Bíblia, o púlpito que ele mesmo construiu e as caixas amplificadas, além de um pano de cetim vermelho, que decora a igreja de papelão.
Do lado de fora, cerca de cem homens e mulheres perambulam de um lado para outro. São os que terão de passar a noite em claro. Eles só poderão dormir pela manhã, quando acordarem as crianças e os que terão de sair para trabalhar. É que não há lugar para todos nas moradias improvisadas.
Mas aqueles pedreiros, faxineiras, cozinheiros, diaristas, auxiliares de serviços gerais, babás etc não choram ou reclamam. Por volta das 20h, cerca de 300 deles -mais filhos e cachorros- reuniram-se defronte a um barraco decorado com a bandeira vermelha de uma tal Frente de Luta pela Moradia, FLM, um dos vários grupos que organizam a população pobre da periferia de São Paulo para a obtenção de moradia. A negra Felícia Mendes Dias, 50, é a principal liderança.
A Secretaria da Habitação da gestão Gilberto Kassab (DEM) respeita Felícia. "É uma mulher devotada à luta pela moradia", diz um funcionário do governo. Por influência de Felícia, o grupo de despejados na favela-tripa adotou um novo nome: Nova Associação Olga Benário.
Após combinarem como agirão no dia seguinte, quando assistentes da prefeitura viriam conhecer as famílias que deverão receber alguma ajuda, o grupo -punhos erguidos- recitou forte o versinho: "Olga Benário / Lutou contra o nazismo / Construindo o socialismo".
O filme "Olga", do diretor Jayme Monjardim, já passou algumas vezes naquele miolo do Capão Redondo, uma das áreas com pior IDH da cidade.

Gripe sulina?
Com voz mansa, Maria Helena Ferreira, 65, vice-presidente da Olga Benário, é quem organiza o cadastro do pessoal que reivindica ajuda da prefeitura. Incansável, a mulher acordou às 4h para ir ao hospital cardiológico Dante Pazzaneze, na Vila Mariana -ela sofreu um infarto há dois anos-, e às 23h ainda corria de barraco em barraco, conversando, tranquilizando, aconselhando. Aproveitou para comer um pouco da sopa que as paróquias do bairro mandaram para a favela-tripa.
A pequena Meyssa Beatriz Pereira da Silva, um mês e quatro dias de vida, espirra fraquinho. Está gripada. Pergunta-se à mãe, Marisa Silva Santos, 21, se não tem medo da gripe suína. Cabelos curtos, olhar inteligente, ela responde: "Gripe sulina?" Meyssa já foi atendida no posto de saúde do Parque do Engenho, ali perto. Liberada.
"Graças a Deus. A gente só tem de agradecer", diz a doméstica Marinalva Francisca de Jesus Santos, 40. A gratidão é porque não está chovendo em São Paulo nos últimos dias.











21 de set. de 2009

Procura da Poesia

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.


Drummond

13 de set. de 2009

Invadindo cidades em busca de cultura e diversidade

Beatriz Monteiro

Projeto idealizado por Robson Padial, Binho, Expedición Por Donde Miras percorre cidades do Brasil levando cultura e conhecendo novas formas de arte

Do Campo Limpo a América Latina. Essa era a ideia incial de Binho, conhecido dono do Sarau que leva seu nome no Campo Limpo. “A América Latina parece uma parede, fechada para nós”, comenta Binho. Ao lado de seu amigo, Serginho Poeta, Binho decidiu começar uma caminhada cultural. O que contava apenas com duas pessoas ganhou forma e tornou-se uma expedição. Nasce, portanto, a Expedición Donde Miras- Caminhada Cultural pela América Latina, um projeto que reúne poetas, atores, músicos, dançarinos, artistas plásticos, entre outros. Que saem, a pé, percorrendo outras cidades em busca de um intercâmbio cultural preenchendo espaços públicos encontrados, realizando saraus em praças públicas. “A pé, qualquer pessoa é capaz de acompanhar e faz com que você consiga contemplar e meditar e se tornar parte da paisagem”, define.

Mais de 1000 km percorridos por dois estados brasileiros. São Paulo e Paraná. Desde de 2008, a expedição já realizou três viagens: Pelo Vale do Ribeira, destino final Curitiba. Por lá, passaram por quilombos e aldeias indígenas. Essa primeira expedição durou um mês. O que Binho busca com as caminhadas é levar a arte de um grupo e conhecer a arte do outro. No dia em que chegam na cidade, buscam recrutar artistas e os convidam a misturarem-se a eles. “Não queremos levar cultura, queremos saber o que o outro vem fazendo”, comenta.

Biblioteca sobre rodas

Biblioteca sobre rodas

A segunda edição da expedição foi percorrer aldeias indígenas do litoral paulista, o destino final era Cananéia. A terceira edição a rota caipira, o destino final foi Botucatu. Em média, o grupo costuma caminhar de 20 a 30 km, mas nem sempre juntos. “Sempre tem alguém querendo conversar com algum morador que encontra”, diz. Próximo passo da expedição é, através de patrocínio, cruzar a fronteira do Brasil com o Paraguai, ou quem sabe, Argentina.

Bicicloteca: No Meio do Caminho Tinha um Livro

O projeto de construir uma biblioteca itinerante nasceu quando a expedição estava em Monguaguá. Lá, adquiriram uma por R$ 39 e conseguiram levantar mais de duzentos livros que ofereceram de porta em porta de cada morador da cidade.

O projeto “Bicicloteca: No Meio do Caminho Tinha um Livro” veio para São Paulo e contemplado pelo programa de valorização a cultura- VAI, Campo Limpo, agora, dispõe de duas bibliotecas sobre rodas com livros que podem ser emprestados a qualquer momento. Por ser uma região de morro, a bicicleta percorre até 3 km diários, mas tem um ponto fixo próximo ao ponto de ônibus.

Uma vez, um dos motoristas de ônibus parou enfrente a uma das bicicletas estacionadas e fez uma encomenda: que no acervo tivesse mais livros do autor Edgar Allan Poe. Binho quer colocar uma placa dizendo que a Bicicloteca aceita também encomendas. “O importante é ler. O livro que não voltar é lucro” comenta. O acervo de quatro mil livros da bicicloteca que vai de clássicos da literatura a gibis foram conseguidos através de doações.

Mais de setecentos livros já foram emprestados, ao menos quarenta por dia. A bicloteca está localizada nos pontos de ônibus da Avenida Carlos Lacerda n° 678 e da Estrada do Campo Limpo n° 1.600.


4 de set. de 2009

Sarau DONDE MIRAS no SACOLÃO DAS ARTES

Donde Miras - Babilônia

A Caminhada passando pelo Shopping Campo Limpo

Vídeos da Suzi






A Caminhada, que partiu do Bar do Binho no Campo Limpo até o Sacolão das Artes, Parque Santo Antônio.

Fotos da Suzi







Raíssa


Gunnar Vargas e o Grupo Candearte

O Sarau no Sacolão das Artes - FOI LINDO!!!

19 de ago. de 2009

Seminário Cultura e Protagonismo Social na América Latina


Local: Auditório II do Museu Nacional da República
Data: 03 e 04 de setembro de 2009
A Articulação Latina Americana: Cultura e Política (ALACP) é uma rede de experiências e de comunicação composta por organizações sociais, culturais e de expressões artísticas que visa contribuir para os processos de democratização cultural, construção de valores e símbolos que sejam capazes de mobilizar manifestações e posições de afirmação a favor de uma sociedade mais justa, eqüitativa, sustentável fundada na radicalização e implementação dos Direitos Humanos nas diversas sociedades e povos da América Latina.
Diante disso, a ALACP, em parceria com o Cena Contemporânea - Festival Internacional de Teatro de Brasília e apoio da Secretaria de Cidadania Cultural do Ministério da Cultura estão propondo a realização de um seminário para reunir especialistas e protagonistas para debater propostas conjuntas sobre a legislação cultural a ser discutida no âmbito do Mercosul. A intenção é criar uma legislação regional que possa definir políticas culturais articuladas entre os países do Cone Sul, num primeiro momento, com possibilidades de ampliação para a América do Sul.
Os participantes discutirão temas como: diálogo intercultural, integração regional, oportunidades para um desenvolvimento sustentável, direitos culturais, fortalecimento institucional da cultura e a possibilidade de implantação de um projeto piloto de “Pontos de Cultura” na região do Cone Sul. Serão realizadas três mesas de debates, seguidas de uma sessão de encerramento, com apresentação de resultados e uma proposta de projeto de lei a ser encaminhado para o Parlamento do Mercosul e Parlamentos Nacionais da América do Sul.

Em breve, a programação completa.

www.culturaypolitica.com

7 de ago. de 2009

SARAU DONDE MIRAS NO SACOLÃO DAS ARTES




SARAU DONDE MIRAS NO SACOLÃO DAS ARTES

22 de jul. de 2009

Disculpen la molestia: armados contra los pobres

Pra quem encara um pequeno texto em espanhol...

http://www.rebelion.org/noticia.php?id=88986


Eduardo Galeano
Cubadebate


Si la justicia internacional de veras existe, ¿por qué nunca juzga a los
poderosos? No van presos los autores de las más feroces carnicerías. ¿Será
porque son ellos quienes tienen las llaves de las cárceles?

¿Por qué son intocables las cinco potencias que tienen derecho de veto en
Naciones Unidas? ¿Ese derecho tiene origen divino? ¿Velan por la paz los
que hacen el negocio de la guerra? ¿Es justo que la paz mundial esté a
cargo de las cinco potencias que son las principales productoras de armas?
Sin despreciar a los narcotraficantes, ¿no es éste también un caso de
“crimen organizado”?

Pero no demandan castigo contra los amos del mundo los clamores de quienes
exigen, en todas partes, la pena de muerte. Faltaba más. Los clamores
claman contra los asesinos que usan navajas, no contra los que usan
misiles.

Y uno se pregunta: ya que esos justicieros están tan locos de ganas de
matar, ¿por qué no exigen la pena de muerte contra la injusticia social?
¿Es justo un mundo que cada minuto destina 3 millones de dólares a los
gastos militares, mientras cada minuto mueren 15 niños por hambre o
enfermedad curable? ¿Contra quién se arma, hasta los dientes, la llamada
comunidad internacional? ¿Contra la pobreza o contra los pobres?

¿Por qué los fervorosos de la pena capital no exigen la pena de muerte
contra los valores de la sociedad de consumo, que cotidianamente atentan
contra la seguridad pública? ¿O acaso no invita al crimen el bombardeo de
la publicidad que aturde a millones y millones de jóvenes desempleados, o
mal pagados, repitiéndoles noche y día que ser es tener, tener un
automóvil, tener zapatos de marca, tener, tener, y quien no tiene, no es?

¿Y por qué no se implanta la pena de muerte contra la muerte? El mundo
está organizado al servicio de la muerte. ¿O no fabrica muerte la
industria militar, que devora la mayor parte de nuestros recursos y buena
parte de nuestras energías? Los amos del mundo sólo condenan la violencia
cuando la ejercen otros. Y este monopolio de la violencia se traduce en un
hecho inexplicable para los extraterrestres, y también insoportable para
los terrestres que todavía queremos, contra toda evidencia, sobrevivir:
los humanos somos los únicos animales especializados en el exterminio
mutuo, y hemos desarrollado una tecnología de la destrucción que está
aniquilando, de paso, al planeta y a todos sus habitantes.

Esa tecnología se alimenta del miedo. Es el miedo quien fabrica los
enemigos que justifican el derroche militar y policial. Y en tren de
implantar la pena de muerte, ¿qué tal si condenamos a muerte al miedo? ¿No
sería sano acabar con esta dictadura universal de los asustadores
profesionales? Los sembradores de pánicos nos condenan a la soledad, nos
prohíben la solidaridad: sálvese quien pueda, aplastaos los unos a los
otros, el prójimo es siempre un peligro que acecha, ojo, mucho cuidado,
éste te robará, aquél te violará, ese cochecito de bebé esconde una bomba
musulmana y si esa mujer te mira, esa vecina de aspecto inocente, es
seguro que te contagia la peste porcina.

5 de jul. de 2009

Festival de Cinema Latino-Americano

O 4º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo começa na segunda-feira, dia 6, e vai até o dia 12 de julho.

Mais de 100 filmes, representando 16 países, desfilarão pelas telas do Memorial da América Latina, Cinemateca, Cinesesc, MIS e Cinusp. Os moradores do ABC poderão conferir a programação no Teatro Cacilda Becker, em São Bernardo do Campo.

Confira:

www.festlatinosp.com.br.

www.redebrazucah.com.br

2 de jul. de 2009

Kundun Balê: resistência, sincretismo e resgate

O espetáculo "Encanto das Três Raças", resultado do trabalho cultural desenvolvido na comunidade quilombola Paiol de Telha, é exemplo de como a arte pode contribuir para emancipar povos e construir identidades.

Veja a matéria na íntegra.


Camiseta do Kundun Balê - tranças e guias.

Estudos espirituais, culturais, dança e música. Esses são os pilares do trabalho desenvolvido pelo educador e percussionista Orlando Silva junto às crianças e jovens da comunidade quilombola em Guarapuava (PR). Trabalho esse que vem colaborando para que os jovens conheçam e desenvolvam suas origens, que tenham consciência de seus direitos e saibam disputá-los, levando para todos a força e a riqueza de sua cultura.

A meu ver, a iniciativa traduz o que os estudos culturais latino-americanos apontam. Néstor García Canclini, em A socialização da arte - teoria e prática na América Latina, encara a arte não meramente como um objeto de absorção lúdica, mas enxerga sua capacidade de intervenção na realidade, forjando identidades e explorando visões múltiplas, aliadas inevitavelmente ao contexto histórico, social e cultural das obras.

Segundo Canclini, "está ocorrendo, em nosso século, uma transformação tão substancial na concepção da arte, quanto a que ocorreu no Renascimento. Nessa época, passou-se da estética clássica (canônica, artesanal, intelectualista) à concepção moderna (caracterizada pela livre invenção de formas, pela "genialidade" individual dos artistas, pela autonomia das obras e sua contemplação "desinteressada"). Nas últimas décadas, a concepção moderna ou liberal é questionada pelas vanguardas artísticas e por críticas sócio-políticas: de acordo com as mudanças econômicas e sociais que procuram a democratização e o desenvolvimento da participação popular, novas tendências artísticas tratam de substituir o individualismo pela criação coletiva, vêem a obra não mais como o fruto excepcional de um gênio, mas como produto das condições materiais e culturais de cada sociedade, e pedem ao público, em lugar de uma contemplação irracional e passiva, sua participação criadora."

Encanto das Três Raças

O espetáculo iniciou com um canto que pede licença à terra para plantar nela a vida, que geralmente encerra os trabalhos de umbanda. Diversas entidades desta religião afro-brasileira foram homenageadas - não aquela homenagem distante, mas incorporada, resultado da busca pela compreensão das vibrações da natureza. A percursão enérgica ditava a sintonia do espetáculo, transmitindo ritmo aos corpos - negros, mulatos, mamelucos, brancos, indígenas, altos, magros, gordos, baixos, jovens, crianças e velhos - transcendendo padrões estéticos artificiais e valorizando a individualidade em sintonia com o coletivo.


Alegria ao final do show.

Ao final do espetáculo, o auditório, lotado devido à apresentação, emanava satisfação e emoção. No palco, a energia era transbordante, desaguando em euforia e abraços consecutivos, até que artistas e público eram uma coisa só. Uma experiência intensa, autêntica, no sentido de que não é apenas um produto cultural - é o reconhecimento da história de uma gente formada por vários povos, da mistura de nuances, da valorização daquilo que somos e escolhemos ser.

Veja a matéria na íntegra.


Por Michele Torinelli